A partir de 1923 Decroux passou a realizar uma pesquisa constante sobre movimentos elementares da dança clássica, inventou uma técnica de mímica corporal e com um pequeno grupo realizou apresentações em Paris e no estrangeiro. O treino com o corpo nu e o rosto coberto era praticado por Copeau como estudo para atores do drama falado, este foi embrionário da Mímica Corporal de Decroux. E Decroux conclui como seu ideal:
” rien dans les mains, rien dans les poches.”
(“Nada nas mãos, nada nos bolsos.”)
Decroux atuou como ator nas companhias de Louis Jouvet e Gaston Baty e trabalhou durante oito anos no Théâtre de l’Atelier de Charles Dullin. Por toda sua via Decroux admirou Jouvet e Dullin.
Atuou como coadjuvante em aproximadamente 35 filmes, papéis mais importantes em alguns filmes de Jacques e Pierre Prévert. Representou o pai de Jean Louis Barrault, o velho Deburau no conhecido filme Les Enfants du Paradis de Marcel Carné.
O provérbio francês “Le génie est une longue patience” (“o gênio é uma longa paciência”) é totalmente aplicável à carreira artística de Etienne Decroux.
Desenvolveu a mímica corporal a partir dos exercícios do Vieux-Colombier, tornando-a uma arte dramática completamente nova, uma espécie de alfabeto mímico.
Dois encontros estimularam o seu trabalhos desde o princípio, primeiro com Suzanne Lodieu que acabou por tornar-se sua fiel companheira, “Suzanne no começo e Suzanne sempre,” ele mesmo afirmaria mais tarde. Ela atuou na primeira composição do Decroux de mímica corporal, La vie primitive (A vida primitiva).
O segundo encontro foi com Jean Louis Barrault, o trabalho conjunto entre eles foi muito frutífero, no entanto Barrault o deixou para servir o exército e depois seguiu seu próprio caminho.
Decroux continuou desenvolvendo sua arte em espetáculos solos que costumavam ser apresentados regularmente na sua sala de jantar para um público reduzido de três ou cinco pessoas.
Em 1941 abriu a Ecole de Mime, teve problemas de início com a falta de habilidade e compromisso de seus alunos, mas por ser perseverante, inteligente, dotado de um brilhante senso analítico e com a fé que tinha na sua missão, Decroux superou todos os seus problemas.
Durante os últimos anos da Segunda Guerra mundial Decroux conseguiu desenvolver um grupo com a algumas pessoas interessadas e fiéis entre os quais estavam o seu jovem filho Maximilien e Eliane Guyon, e após a libertação da França dos nazistas, o seu trabalho tornou-se conhecido.
No dia 27 de junho de 1945 – Decroux contava com 47 anos e pela primeira vez um espetáculo de mímica foi apresentado em teatro de Paris para mais de mil espectadores.
O espetáculo foi estrelado pelo próprio Decroux e seus alunos Eliane Guyon, e Jean Louis Barrault. Uma presença importante nesta apresentação foi de Gordon Craig que depois de assistir escreveu um entusiasmado artigo em um jornal parisiense e a partir daí o trabalhou de Decroux ganhou um novo impulso.
Seu reconhecimento cresceu, realizando mais apresentações em Paris para grandes platéias, além de ganhar novos alunos na sua escola. Nos anos seguinte foram realizadas tournês pelo exterior: Itália, Suíça , Bélgica, Holanda, Suécia, Inglaterra e Israel. Além das apresentações Decroux lecionou como professor convidado em todos estes países, foi professor convidado por um ano na escola do Piccolo Teatro di Milano, dirigiu uma escola e uma companhia de mímica em Nova Iorque durante cinco anos e em 1963 voltou a Paris, onde treinou jovens de todas as nações em um pequeno cômodo da sua própria casa em Boulogne-Billancourt até poucos anos antes da sua morte.
Algumas de suas criações foram: l’Usine, Les Arbres, Combat Antique, Duo Amoureux, Le passage des hommes sur la terre, Petits Soldats, Chirurgie Esthétique, Méditation, l’Esprit Malin, etc.
Alguns mal-entendidos persistentes:
- Para a maioria das pessoas mímicas eqüivale ao que Marceau fazia, oriunda da grande difusão do seu trabalho pantomímico por todo o mundo e do êxito que o mesmo tem entre seu público.
- A mímica, por ser uma arte do movimento, é normalmente considerada como um ramo da dança. Essa conceito poderia ser aceitável no passado, mas após Decroux, a mímica se tornou uma arte autônoma com suas próprias raízes. Decroux é geralmente considerado como um herdeiro e sucessor Jean Gaspard Deburau, pantomimo francês famoso do século XIX, idéia essa reforçada pelo filme Les Enfants du Paradis no qual Decroux representa o pai de Barrault no papel de Pierrot-Deburau.
Este filme teve um sucesso internacional imediato após a Segunda Guerra Mundial, porém acabou se tornando um símbolo inadequado do renascimento da mímica, pois não há de fato nenhuma relação entre a mímica corporal de Decroux e a pantomima de Deburau.
A arte de Decroux tem as suas raízes na renovação do teatro do século XX e pode ser situado entre trabalhos como os de Craig, Stanislawski, Meyerhold, Copeau, Artaud, Brecht, Grotowski…
Essa renovação foi uma busca pela essência desta arte em comparação ao cinema, televisão, literatura. Nas artes visuais podemos apontar paralelos com a arte de Decroux: Kandinsky, Mondrian, Brancusi entre outros. No teatro moderno três artistas podem ser considerados os pioneiros da expressão corporal e da linguagem do movimento para o ator dramático: Meyerhold na Rússia, com sua biomecânica, Decroux na França, com a sua mímica corporal e Grotowski da Polônia com seus treinos físicos.
Decroux elegeu o cavalo-marinho como seu símbolo, por representar perfeitamente o tronco, a espinha é a essência da mímica corporal, o cavalo-marinho é um animal poético: leve, elegante, misterioso, move-se lentamente pelas águas, símbolo do estatuário móvel de Decroux.